É
possível ser cristão e não se compadecer (leia-se, estender a mão) com os
oprimidos?
Jesus
estava prioritariamente ao lado dos pobres desde a sua chegada ao ventre de
Maria (Lc 1:53), advertia os ricos sobre a incompatibilidade de seu estilo de
vida com o Reino de Deus (Mc 10:25), proferiu no sermão do monte o manifesto
mais lindo que já se ouviu a favor dos oprimidos (Mt 5).
A
proposta do Evangelho é comunitária desde sua gênese (At 4:35), no entanto, o
evangelicalismo brasileiro desvia-se dessa proposta na mesma proporção que
cresce numericamente. Não é incomum se deparar com irmãos que professam esta fé
mas manifestam-se energicamente contra os direitos humanos, a distribuição de
renda e a proteção de grupos étnicos, unindo-se assim aos sentimentos
vingancistas que eclodem do senso comum.
O movimento evangélico está corrompido, formularam uma agenda moral mas repelem qualquer possibilidade de intervenção no plano material. Estamos com o nariz enterrado no próprio umbigo, perdemos a perspectiva de zelo pelo próximo, afastamo-nos assim do Deus que “(...) defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa” (Dt 10:18).
Minha
curta experiência nos três maiores segmentos evangélicos – pentecostalismo,
neopentecostalismo e protestantismo tradicional – me levaram a seguinte
observação: não há espaços vazios, quando negamos discutir temas sociais num
púlpito e ocupamo-nos apenas com questões transcendentais, aprofundamos a
lógica individualista que investe de fora para dentro da igreja. Exemplificando
melhor, se no âmbito de uma comunidade evangélica discuto apenas a dimensão espiritual,
sem difundir posições cristãs acerca da vida em sociedade, dou espaço para que
prospere na igreja todo tipo de filosofias e conceitos que estão presentes
sociedade à fora e que na maioria das vezes não condiz com nossa fé.
Por
fim, deixo claro que esta discussão não se trata do velho debate “esquerda versus direita”, tampouco de
posicionamento político partidário, mas de uma reflexão a respeito do papel da
igreja enquanto agente social propositivo, transformador. É preciso retomar as
bases da nossa fé, que só se traduz ao mundo através de nossas obras de cuidado
e amparo ao próximo (Tg 2:15-17).
Quem dá aos pobres não
passará necessidade, mas quem fecha os olhos para não vê-los sofrerá muitas
maldições. Provérbios 28:27
Nenhum comentário:
Postar um comentário