sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ucrânia: novo capítulo das estratégias golpistas de Washington

Partidários de direita em manifestação nas ruas de Kiev.


Manifestantes ucranianos derrubam estátua de Lênin em Kiev – Divulgava a imprensa hegemônica mundo a fora de forma festiva.

Após o ocorrido os principais tablóides passaram a vincular quase que diariamente a “epopéia” dos manifestantes que se entrincheiravam nas ruas congeladas da capital da Ucrânia. Empunhando bandeiras do Partido da Liberdade – principal força política de direita do país – estes opunham-se a recusa do presidente Viktor Yanukovich em estabelecer vínculo com a União Européia. Viktor busca como alternativa de cooperação econômica um tratado com a Rússia, fato que também motivava os protestos oposicionistas.

No Brasil, a derrubada da estátua de Lênin em Kiev causou basicamente três reações: 1) Os coxinhas comemoravam o fato e propagandeavam nas redes sociais o repúdio do “povo” contra o comunismo; 2) A esquerda trotskista produziu numerosas teses que davam e entender que tratava-se de uma reação do “povo” ucraniano contra os tempos do stalinismo; 3) Militantes de esquerda mais cautelosos procuravam olhar para além da aparência, afim de captar o que de fato estava por trás das manifestações.


As últimas notícias que nos chegam daquele país nos faz crer que as duas primeiras teses estavam completamente erradas. Nesta semana a secretária de Estado adjunta norte-americana, Victoria Nuland, foi flagrada em conversa telefônica com o embaixador dos EUA em Kieve, Geoffrey Pyatt. Os dois discorriam dos planos do governo estadunidense em promover uma transição no governo ucraniano, no qual, a secretária citava nomes de líderes dos quais tinha predileção para ocupar o cargo presidencial. Neste ponto temos total concordância com citação irônica do indigesto William Waack: “ao cair na intercepção telefônica, os EUA provaram que o feitiço virou contra o feiticeiro” [Sic].

Desde a derrocada da União Soviética, os EUA ampliaram significativamente sua ingerência em assuntos internos de várias nações conspirando aqui e acolá para compor governos que se aliem ao imperialismo ianque. Para cumprir seus objetivos, se utilizam de velhas estratégias golpistas. Encaram empreitadas diretas no campo de batalha – caso do Afeganistão e Iraque – e auxiliam forças oposicionistas, como o golpe militar de Honduras e o fortalecimento das milícias radicais islâmicas na Síria. Aonde quer que haja um governo capaz de desafiar os rumos que propõem na política externa, entra em cena a embaixada americana alimentando grupos de direita em manobras antidemocráticas.

Mesmo após a queda do regime comunista, a Rússia nacionalista de Putin continua sendo uma pedra de sapato para os interesses norte-americanos. Lembremos que o governo Putin teve papel decisivo para barrar uma ofensiva militar dos EUA contra a Síria. Os acontecimentos recentes pela disputa de influência no Leste Europeu e em parte do Oriente Médio reacendem elementos da famosa Guerra Fria.

A luta política atual não se trata de capitalismo versus socialismo. Longe disso. Trata-se de uma clara ofensiva de Washington contra tratados de cooperação que fuja do eixo que submete o mundo aos interesses econômicos predatórios do que há pior na burguesia mundial. Interesses estes que em 2008 mergulharam o mundo na maior crise do capital desde 1929 e recentemente, ancoraram países europeus numa situação catastrófica.


Portanto, a disputa pela influência na Ucrânia não se trata apenas de um conflito histórico entre Washington e Moscou. O que tem a União Européia a oferecer para o povo ucraniano? Este mesmo bloco que vende a promessa de prosperidade ao que já fora parte da “cortina de ferro” há poucos anos arrastou países como a Grécia para os maiores cortes de direitos sociais jamais vistos no Velho Continente. O que mais serve a Ucrânia, o nacionalismo protecionista de Putin ou a política de austeridade da primeira ministra alemã Angela Merkel?


Evidente que não morremos de amores por Putin ou mesmo por Assad (presidente Sírio), mas precisamos compreender que diante do momento de defensismo em que os comunistas têm forças bem reduzidas com relação ao que já tivemos, nos interessa aliar-se as forças democrático-nacionais que surgem como contraponto ao belicismo estadunidense e busca a preservação  da soberania nacional e da autodeterminação dos povos.


Não podemos cair no erro de encarar os grupos que outrora combatemos como se fosse um bloco monolítico. Há profundas contradições nessa disputa de influência, no qual, os comunistas têm o dever de jogar água nos moinhos que alavancam uma reação a arrogância vinda de Washington. Para isso, nada melhor que a velha citação de Marx e Engels na parte final de “O Manifesto do Partido Comunista” quando discorre sobre a aliança pontual com setores liberais democráticos, mas alerta para que não percamos de vista o horizonte próximo, o socialismo.