segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E para los obreros?

Inauguração da UPS na Zona Norte de Cascavel. Aonde estão los obreros?

Roberto Martin

Nada
Esta foi a resposta
Antes e depois da festa
Prestigiada de inauguração

Autoridades: civis, militares e eclesiásticas
Todos em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo

O Filho tinha sido crucificado
Pelas autoridades
Que em Seu nome fingiam que rezavam

E para los obreros?
O ferro, o cimento, a vianda
A terra lavrada, o rio entupido
O salário do nada

Por onde andavam los obreros?
Os diretores, ministros, assessores,
deputados, a imprensa
Luz, câmera, ação
Entrevistas para ocupar espaço
Para não dizer nada
Nada sobre los obreros.

sábado, 15 de dezembro de 2012

...é a luta de classes José!


E agora José?

O ensino foi pouco, raso, precário, escasso, parco. Enfim, cabem aqui muitos adjetivos negativos.
Sonhava ser médico, ator, cantor, dentista, escritor. Sonhava grande. Ainda Sonha.

Enquanto se esmera na labuta de "caixa de mercado" lhe restam pouco tempo livre, e sonhar...
Bem, sonhar é uma atividade inevitável.

Talvez o cursinho, talvez o profissionalizante, quem sabe o vestibular.
 – Vestibular? Privado de preferência. Fica mais fácil vencer a concorrência.

Pare de sonhar José. Sonhar custa caro, lhe tira a atenção, a produtividade e o lucro do patrão.

O patrão sim teve sorte. Trabalhou muito, se esforçou tanto e agora colhe o que plantou.

Tem culpa José se nunca lhe ensinaram a plantar?

E agora José?
A Luz apagou
 – foi falta de grana pra pagar a companhia elétrica!

Entre um carro e outro, ali no estacionamento, está José. Empurra a passos calmos o carrinho de compras em direção ao carro da madame... é só seu corpo, a mente não está ali.

Nos ouvidos o mundo grita o que velho Adam Smith apregoava: “todos têm oportunidades iguais"... mas Marx lhe parece mais coerente: “é a luta de classes camarada José, a luta de classes!”

sábado, 8 de dezembro de 2012

Stalin por Oscar Niemeyer

Oscar Niemeyer está entre os que rejeitam a propaganda negativa contra Stalin.

Quando a verdade se impõe 
(Por Oscar Niemeyer, para a Folha de São Paulo de 09/01) 

"Estou no Rio, em meu apartamento em Ipanema, alheio à agitação que hoje, 31 de dezembro, afeta toda a cidade. Recebo, pelo telefone, o abraço de fim de ano de meu amigo Renato Guimarães, lembrando-me, com entusiasmo, do livro sobre Stálin que, meses atrás, lhe emprestei. Uma obra fantástica do historiador inglês Simon Sebag Montefiore, sobre a juventude de Stálin, que tem alcançado enorme sucesso na Europa, reabilitando a figura do grande líder soviético, tão deturpada e injustamente combatida pelo mundo capitalista.

E fico a pensar como essa publicação me chegou às mãos por um amigo, o arquiteto argelino Emile Schecroun, que hoje reside na capital francesa. E vale a pena comentar um pouco da vida desse querido companheiro, que, ao ter início a luta entre a França e a Argélia, deixou o PCF em Paris, onde vivia, para filiar-se ao partido comunista argelino e combater no seu país de origem, ao lado de seus irmãos, por sua libertação. E contar como sua mulher foi torturada e ele, um dia, preso e enviado sob algemas para a França.

Duas ou três vezes por ano Emile vem ao Rio me ver. Quer falar de política, lembrar dos velhos camaradas de Paris. Às vezes eufórico, contente com o que vai acontecendo pela Europa; outras, como na última ocasião em que me visitou, preocupado com a crise que envolve o PCF, na iminência de ter que alugar um andar da sede que projetei. Tentei intervir, propondo uma entrada independente que servisse de acesso aos que vão utilizar aquele pavimento... Mas logo meu amigo reage, certo de que a situação política tende a melhorar, de que os jovens da França continuam atentos ao que passa pelo mundo, prontos a protestar contra tudo o que ofende a dignidade humana. E volto a lembrar daquele livro, a figura de Stálin ainda muito jovem, sua paixão pela leitura, o seu interesse nos problemas da cultura, das artes e da filosofia, sempre a cantar e dançar alegremente com seus amigos. É claro que a juventude russa já sofria a influência de escritores como Dostoiévski, Tolstói e Tchecov, a protestar contra a miséria existente, revoltados com a violência do regime czarista. Muitos, a exemplo de Dostoiévski, enviados para a prisão na Sibéria, onde durante anos ficaram detidos. Depois, como tantas vezes ocorre, a vida a levar o jovem Stálin à luta política, que, apaixonado, o ocupou até a morte. E o livro relata as prisões sucessivas que ocorreram em plena juventude, as torturas que presenciou, enfim, tudo que marcou a sua atuação heroica na luta contra o capitalismo. Ponho-me a folhear a obra, surpreso em constatar que o seu autor, depois de enorme pesquisa que se estendeu a arquivos da Geórgia, somente há muito pouco tempo franqueados a pesquisadores, levantou informações inéditas importantes sobre a vida de Stálin.

É bom lembrar que não se trata de autor de esquerda, mas de alguém que, pondo de lado suas posições político-ideológicas, soube interpretar uma juventude diferente, marcada pela inquietação cultural, que levou Stálin à posição de revolucionário e líder supremo da resistência contra o nazismo. Muito animado, Renato me diz que, seguindo a linha política de sua editora, esse vai ser um dos livros que com o maior interesse irá publicar. A tarde se estende lentamente. 

Em breve o povo estará nas ruas a cantar - alguns esquecidos de que a miséria em que tantos vivem não se justifica, outros, como nós, confiantes em que um dia o mundo será melhor."

Extraído do Blog HISTÓRIA E SEUS AFINS.