domingo, 5 de junho de 2011

NOVE ANOS SEM JOÃO AMAZONAS



João Amazonas: um comunista brasileiro!

“Minhas cinzas devem ser espalhadas na região do Araguaia, onde houve a guerrilha. É uma forma de juntar-me aos que lá tombaram.” último pedido de João Amazonas.

Em alusão à passagem dos 9 anos da morte do camarada Amazonas, o texto abaixo foi lido na abertura do Pleno do Comite Estadual do PCdoB/Paraná.

HOMENAGEM A JOÃO AMAZONAS
Há nove anos, na tarde de 27 de maio de 2002, em São Paulo, o povo brasileiro perdeu a companhia viva de João Amazonas de Souza Pedroso.  Com 90 anos de idade, dedicou 67 deles à luta revolucionária no Brasil e no mundo, e ao fortalecimento do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que dirigiu por exatos 40 anos.
Militante do Partido já aos 23 anos, Amazonas se tornaria um dos brasileiros mais notáveis do século XX e um dirigente comunista de envergadura internacional. Lutou contra a ditadura do Estado Novo, que destroçara o Partido, participou de sua reconstrução na Conferência da Mantiqueira, em 1943, foi deputado federal constituinte em 1946, opôs-se ao golpe kruchovista na União Soviética e reorganizou o partido em 1962, quando surgiu a sigla PCdoB, que encarnava o autêntico partido revolucionário, marxista-leninista, fundado em 1922. Amazonas esteve à frente dos comunistas na luta sem tréguas contra a ditadura militar de 1964 e organizou a guerrilha do Araguaia. De volta do exílio, em 1979, participou, até sua morte, das maiores lutas democráticas e patrióticas do
povo brasileiro, sempre à frente, sempre destemido e lúcido.
 
Diante dos tempos novos e instáveis que vivemos, das singularidades da luta renovada pelo socialismo e da busca dos meandros de sua construção na realidade específica brasileira, podemos recolher de João Amazonas  reflexões em diversos campos da atividade revolucionária. Uma delas tem centralidade irrecusável para os comunistas, como também para os que almejam uma sociedade socialista em nosso País: a ferramenta de luta pela conquista dessa nova ordem entre nós, ou seja, o partido revolucionário, a organização dos homens e mulheres que, nas palavras de Engels, “serão os únicos a possuir força e vontade para chamar à vida esta sociedade nova e melhor”.
Amazonas tratou disso no texto “Força decisiva da revolução e da construção do socialismo”, escrito em 1996. Eram então os tempos miseráveis da década de ofensiva neoliberal no Brasil e a poeira do muro de Berlim ainda sufocava mentes e abalava convicções. Ao aprofundar seu exame sobre a derrota do socialismo no Leste europeu (exame iniciado quatro anos antes, no processo do VIII Congresso do PCdoB), Amazonas focou a questão crucial do partido como intérprete e condutor das mudanças. Não qualquer partido, mas um dotado das “qualidades indispensáveis ao cumprimento de sua missão histórica”. E citou o conselho de Marx e Engels aos dirigentes comunistas alemães: “Pactuai acordos para alcançar objetivos práticos do movimento, mas não trafiqueis com os princípios, não realizeis ‘concessões’ teóricas”.
Amazonas situa Lênin como “quem, pela primeira vez, desenvolveu a teoria do partido como organização dirigente da classe operária e como instrumento insubstituível à vitória da revolução social”. O dirigente bolchevique, prossegue Amazonas, “sustentou a idéia do partido de princípios, marxista, que atua em todas as lutas dos trabalhadores e do povo, mantendo sempre sua feição revolucionária”. Na visão leninista, que Amazonas defende, “o partido deveria ser organização de vanguarda, uma vez que somente uma parte da sociedade, e mesmo da classe operária, tem condições de compreender em profundidade o processo da transformação histórica”. Em outras palavras: “O partido não é uma organização de frente única, na qual cabem diversas correntes em pugna por objetivos imediatos”.
Ao analisar as circunstâncias da derrota socialista na então URSS e no Leste da Europa, Amazonas afirma: “Indubitavelmente, o PCUS degenerou. A derrota do socialismo começou precisamente com a degeneração dessa organização de vanguarda. Ainda no tempo de Stálin já apareciam sérios indícios. O PCUS burocratizava-se, desligava-se da classe operária e das amplas massas populares, caía na rotina e no formalismo, estimulava a fé supersticiosa nos dirigentes (...). Muitos quadros faziam ‘carreira’ no partido, visando a interesses pessoais”.
Para Amazonas, “socialismo e partido são inseparáveis. Apareceram juntos e caminharam juntos no histórico cenário dos entrechoques de classes”. Assim, “é impossível mudar o regime econômico e social sem ter como
suporte fundamental uma organização de vanguarda”. E prossegue: “Para vencer, [o partido] precisa situar-se ideologica e politicamente no campo do proletariado, não apenas na fase da revolução, mas durante todo o período de transição, até a passagem ao comunismo, abrindo caminhos novos à transformação da sociedade”.
“Os fracassos originam-se, em última instância, das posições de conciliação de classes, das ilusões pequeno-burguesas de que se pode triunfar nos marcos do regime capitalista, ou realizar as mudanças históricas adaptando-se às normas e ao estilo de vida burgueses”. Mas adverte: “A luta de classes não pode ser enfrentada de maneira mecânica, sectária. O proletariado luta em todos os terrenos, utilizando  as contradições existentes no campo adversário, defendendo as conquistas sociais, as liberdades democráticas, avançando passo a passo na estrada que conduz à revolução e ao socialismo”.
Por todas essas razões, Amazonas conclui: “Cuidar do Partido para podermos dizer, como Lênin, do Partido bolchevique: ‘Nele temos fé, nele vemos a inteligência, a honra e a consciência de nossa época”.
Não se poderia pensar em outro modo de homenagear o velho dirigente comunista, na passagem do nono ano de sua morte, senão focando e difundindo as férteis reflexões que produziu e que se projetam para iluminar a contemporaneidade  da luta revolucionária em nosso País. E relembramos o camarada João, sempre preocupado com seu partido, na tribuna do X Congresso do PCdoB, em dezembro de 2001, nas vésperas de completar 90 anos, com a voz mansa de sempre e os doces olhos de um avô, pedir a seus camaradas que o dispensassem da tarefa de dirigente principal do Partido. Mas garantiu: “Não vou me aposentar. Até o fim estarei a postos em minha banca de trabalho”. Foi ovacionado pelos mais de mil delegados que testemunhavam a história recente do Brasil estampada naquela figura franzina de claros traços de índio amazônico.
As novas gerações de comunistas devem conhecer a trajetória desse brasileiro superlativo, principal construtor e ideólogo, referência teórica e política do PCdoB.
Que os militantes revolucionários de hoje e do futuro aprendam sobre o camarada João, estrela viva da história de lutas do povo brasileiro, pois, recordando Eduardo Galeano, “a luz das estrelas mortas viaja e pelo vôo do
seu fulgor nós as vemos vivas”.
Vivas ao camarada Amazonas, viva o Partido Comunista do Brasil !

1ª. Reunião do Pleno do Comite Estadual do PCdoB-Paraná
Curitiba, 28 de maio de 2011.