Ilha
das Flores. O nome é sugestivo. Remete-nos a uma dessas ilhas caribenhas
com praias paradisíacas e quiosques suspensos a beira-mar. Ou então aquelas
ilhas fiscais onde vão parar todo dinheiro transportado em meias, cuecas e rechonchudas
maletas de senhores trajados em ternos de linho italiano. Mas não se trata
disso. Ilha das Flores é aquele fétido local onde a metrópole deposita seus dejetos
Em
tempos de globalização, o discurso inclusivo está na moda. Não tenho críticas
bem construídas sobre isso, mas discordo piamente do termo “excluídos”, quando
se trata de denominar indivíduos a margem da sociedade. Ora, é disso que
sobrevive o capitalismo. O marginalizado está absolutamente incluso nesta sociedade,
não há capitalismo sem exclusão. Claro que a política de inclusão é
extremamente necessária para minimizar a situação de pauperização de muitas
pessoas, mas querer atribuir essas mazelas sociais como anormalidade é pura
ingenuidade. O acumulo de riquezas peculiar a este modo de produção,
inevitavelmente cria uma massa de sujeitos miseráveis que estão a beira da
sociedade do consumo, mas absolutamente incluídos e necessários para manter a
dominação de uma classe sobre a outra.
Um
lixão, tal qual é Ilha das Flores, é onde o capitalismo se desfaz não somente
dos restos alimentícios e de lixo inorgânico, mas onde se depositam os indesejáveis.
Numa sociedade que crescentemente transforma tudo em mercadoria – até mesmo a
fé – os seres humanos são comercializados, consumidos e também descartados.
A
cena de pessoas circulando sobre o lixo e disputando os restos com os urubus é lastimável,
mas infelizmente normal. A desativação dos aterros sanitários iniciada em 2014
é de extrema importância em termos de questões ambientais, mas é inegável que
expurgará mais uma massa de seres humanos descartáveis para as ruas dos grandes
centros urbanos.
Toda
cidade que não se adequar as novas exigências de tratamento do lixo receberá
pesadas multas. No entanto, ainda é permitido manter deposito de gente – as cracolândias
que o digam.
Por isso, fica meu sincero apelo: se indignem, protestem, proponham, pensem alternativas aos despoitos humanos. Mas abandone esta visão apaixonada, não caia na ilusão de encarar essas cenas cotidianas como aberrações produzidas unicamente pela deplorável natureza humana. Entantam, isso faz parte do sistema e só poderá deixar de existir com a destruição deste. Os lixões são jardins do capitalismo!
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