segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Propaganda da Política e a Política da Propaganda

Campanha do "No", pelo fim da ditadura no Chile
Há tempos circula na internet um vídeo em que o ex-presidente Lula - ainda em campanha eleitoral, 2002 - expunha sua análise a respeito da chegada da esquerda ao poder. Num voo fretado Lula disserta sobre um diálogo com o publicitário de sua primeira campanha exitosa ao Planalto: 

"A grande frase do Duda [Mendonça] numa reunião do PT: 'Se vocês estão tão certos, por que vocês não ganharam ainda?' (...) Então o que aconteceu? O Duda falou: 'Olha... Em comunicação gente, o importante não é o que a gente diz, é como as pessoas compreendem o que a gente diz'".

Esse diálogo é revelador. Alguns mal intencionados (seja a direita ou a esquerda) dialogam com o conteúdo acima tentando pintar um Lula traidor, que rompeu com suas raízes para vender a imagem de bom "velhinho", de governante limpinho, de quem quer chegar ao poder a qualquer custo abandonando o compromisso ideológico ao lado dos trabalhadores.

Em pleno século XXI ainda há parcela da esquerda que não renovou o método de diálogo com o povo. Mas o povo mudou! É deprimente quando um Ivan Pinheiro interrompe o Jornal Nacional do engomadinho William Bonner para propagandear suas teses, mas o faz como se estivesse em pleno Estado Novo. Nos da impressão que é o mesmo PCB do Prestes. Não há identidade com o público receptor. O trabalhador não se enxerga ali. É ultrapassado. Embora com discurso fundamentado, mas a retórica cheira a poster velho, amarelado, empoeirado e com uma linguagem em desuso.

O Lula "paz e amor" do Duda Mendonça

O premiado longa metragem "No", de Pablo Narraín, narra situação semelhante no plebiscito chileno de 1988. Sofrendo pressão internacional para dar caminhos "brandos" a ditadura militar, Augusto Pinochet convoca o povo a decidir por sua permanência ou não ao poder. A oposição se entrincheira na campanha do "No". O agrupamento de 17 partidos se vê ante um dilema: que formato de campanha adotar? A ideia inicial previa um programa tenso, com música de lamento, números de mortos, de desaparecidos, de torturados e um pedido desesperado pelo fim do regime. Este modelo é superado por uma campanha descontraída, que visava dar um alento, um tom de esperança e alegria aos chilenos. A campanha ganha as ruas. Primeiro 350 mil, depois 600 mil, e assim realizou-se as duas maiores manifestações já vistas nesse país. E o clima virou, e a campanha deslanchou. O "No" ganhou e o Chile deu Adeus à Pinochet.


Lula e a campanha vitoriosa do "No" ensinam a esquerda uma importante lição. Embora essencialmente Marx nunca será superado enquanto houver capitalismo, há uma série de temas atuais sob os quais os marxistas se debruçam olhando para o passado mas também para o presente. Como diz Leandro Konder na obra"Os Sofrimentos do Homem Burguês": "Quem não viveu o que Marx viveu não pode limitar-se a dizer o que ele disse".

É preciso uma esquerda que inove não somente na analise da realidade, mas no método propagandista. Não falo numa esquerda pepsi-cola, tal qual a "renovação" falaciosa do eurocomunista Roberto Freire e seu PPS. Se os leninistas realmente acreditam que para chegar ao poder é preciso ter a simpatia dos trabalhadores para a causa do partido (comunista), então devemos formar entre nós mais Dudas Mendonças (no sentido profissional, não ético).