domingo, 17 de agosto de 2014

É medíocre tornar Eduardo Campos um mártir antipetista

Lula, Dilma e Campos: aliados históricos.

Os conservadores distorcem a imagem de Campos e o elevam num pedestal como mártir antipetista. Mediocridade dos coxinhas acéfalos.


Surpreende-me a higienização da imagem de Eduardo Campos (PSB). Vítima trágica de acidente aéreo, o presidenciável tem mais votos agora de que antes de sua tragédia. Pior de que isso é que virou ícone de uma massa de coxinhas acéfalos que adotaram uma de suas frases e a proferem como um mantra nas redes sociais: “Não vamos desistir do Brasil!”

Pelo menos na minha time line diversos antipetistas evocam Eduardo Campos para usá-lo como mártir de uma campanha contra a presidenta Dilma. Para esses ou falta memória, ou há absoluto mau-caratismo. Relembremos quem foi Eduardo Campos.

Antes de tudo, Campos adentra na política pelas mãos do avô Miguel Arraes. Militante do campo da esquerda, Arraes teve seu primeiro mandato como governador de Pernambuco marcado pelo apoio do Partido Comunista, enfrentamento aos usineiros para garantir que o salário mínimo fosse estendido aos trabalhadores rurais, apoio as ligas camponesas e incentivas à criação de sindicatos e associações de trabalhadores. Não por acaso figura como uma espécie de pai dos pobres pernambucano. Arraes foi deposto pelo golpe civil-militar de 1964 e ao retornar para o Brasil reorganiza o PSB e governa o Pernambuco por outros dois mandatos.

Campos mantinha estreita relação com o MST
Campos é tido como homem mais flexível, muito mais conciliador que seu avô. Uma figura mais simpática a classe média – onde seu avô não obtinha muito prestígio – e dialoga muito bem com setores da direita. Uma espécie de socialdemocrata francês em terras tupiniquim.

Mas lembremos amigos coxinhas, Campos bebe da mesma fonte que Dilma. Foi ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula de 2002 a 2006. Governador da base governista, reeleito com mais de 80% dos votos em 2006 graças a habilidade de surfar nos programas sociais dos governos petistas. Somente no terceiro ano de mandato rompe em definitivo com a presidenta Dilma.

E sejamos honestos, Campos fazia críticas moderadas a este governo. Empenhava seu discurso em três eixos: o combate as alianças com velhos oligarcas do congresso nacional; a falta de sensibilidade em “ouvir as ruas” e a crítica ao projeto de desenvolvimento econômico que no último ano apresentou menor crescimento que na era Lula. Claro que o jogo eleitoral fez transparecer um lado mais fisiologista, para angariar votos e se diferenciar dos demais candidatos buscava transitar entre pautas tradicionais da esquerda – como a reforma agrária e o aprofundamento da democracia popular – e os anseios da classe média elitista e direitista – por exemplo, o discurso moralista e a bajulação ao agronegócio.

Avô e padrinho político Miguel Arraes
Por esses motivos sigo na afirmativa de que mesmo com todos os equívocos e personalismo crescente, Eduardo Campos era um político de ESQUERDA. Diferente da Marina Silva – a tartaruga sem casca – que se transmutou completamente em busca de um lugar ao sol, Campos tinha convicções claras e um programa progressista, tal qual seu grande aliado, Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso me espanta os conservadores elevarem sua imagem num estandarte contra Dilma. Para estes tenho algo a dizer: sejam menos cretinos na avaliação política e deixem de manipular a historia aos seus bel-prazeres.

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